segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Ouvindo Abbey Road

Por Sorte*


Eu sempre me pergunto se as coisas acontecem na vida da gente por alguma razão, ou se há essa tal razão das coisas acontecerem. Muitas vezes acho que elas acontecem como as chuvas de verão. E tem chovido pra cacete. Acredito que só o fato de pensar nas coisas já dar mérito demais à elas.

Corri as janelas do meu quarto e liguei o monitor enquanto ouvia “Oh Darling” dos Beatles. Uma canção que realmente toca. Um balde d’água fria num sábado sem graça onde coisas aconteceram sem razão alguma. Eu deveria ter saído, mas por motivos que eu desconheço, fiquei sob a luz da pantalha.

Aí achei este poema que parece não ter ‘nada que ver’ com nada. Mas me lembrou uma conversa que eu tive um dia desses. Beatles, conversas misteriosas e um soneto sem título preenchem a noite. Por acaso, ou por sorte, é minha dúvida eterna.


Estou andando por uma estradinha há dias

E caminho a passos inteligentes

Mesmo que não haja ninguém para ver

As minhas pegadas ficam no chão.


As marcas são de botas e eu ando descalço

As pessoas que não me vêem estão aqui

Minha inteligência nunca foi tão inútil

E eu começo a me cansar


O calor do sol é molhado pela chuva

E não há rua que não inunde

Com a tempestade verdadeiramente bela


O suor escorre pelo meu rosto quente

Eu estou cheio da nudez

!Quero ser gente, não poeta!


Rio de janeiro, 03 de março de 2007.


*’Por Sorte’ é a canção que preenche a faixa 4 do disco que eu estou gravando, isso tem uns anos, mas que um dia sai, há se sai.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Lendo Cesário Verde

Falar sobre o que se escreve é coisa pra ventríloquo. Não gosto de justificar o que escrevo, pois o texto faz isso sozinho, ou pelo menos deveria. Não há um pingo de pessimismo nele, mas agora somos meros espectadores das voltas que um texto pode dar. Se esse deu, bom, eu sei tanto quanto vocês.


Desencontro

Sentei-me, como de costume, do lado de fora
E daqui, de onde me encontro,
Não vejo nada. ¡Não passa nada!
Está tudo tão parado que eu tenho vontade de pensar em mim.
Como se eu estivesse doente.

Em mim e alheio a mim, me encontro.
Nessa busca que, ao acaso, comecei
Encontrei várias pessoas entre as quais eu estava,
Eventualmente.
Estava triste e feliz às vezes, mas na maioria das vezes
Eu estava alheio a mim

Levanto-me e olho em volta.
Vejo se há alguém de verdade por aqui.
¿Todos são de mentira?
Não há ninguém por aqui
Estou inevitavelmente, invariavelmente só.

Rio de janeiro, 05 de dezembro de 2006.

sábado, 11 de outubro de 2008

Metabloguísticamente

"A causa da fome no brasil são manobras estáticas ou estéticas com talheres, que já na entrada são um perigo semântico."

Perigo

O Brasil tem fome e uma vontade enorme

De não fazer o sente vontade, o que a princípio

Poderia parecer uma disparidade técnica da

Minha falta de precisão vocabular, se não se tratasse

De um país que sofre de males semânticos e estéticos

Onde manobras estáticas com talheres e filas furadas de banco

Não têm a mesma natureza, mas perpassam caminhos comuns.

O Brasil não é um país, é o pai malandro de um filho boboca e

Virgem que não abstrai sua condição nem sua proposição.

O Brasil é uma invenção de ventos tortos, o menino que não fala castelhano

Na América, e nem se interessa a fazê-lo por pura preguiça e malandragem.

Que joga mais bola que todo mundo e que morre de rir da TV num domingo.

Minha pele é amarela, morro de fome metonimicamente, e furo filas

Para matar minha fome

Mas não me desespero.

Rio, 07 de outubro de 2008.

Diálogos são necessários, neste uma conversa de outrora!