O que você não encontra no gibi,no jornal, nos outros blogs, na tua revista de bairro, no teu disco favorito, no mural de poemas da Letras, e nas bulas de remédio da sua avó.
Olha a nova onda de espíritas de plantão surgindo. Depois de uma semana do Filme do Chico Xavier, percebo um movimento pró-espírita quase tão forte quanto o de ‘coisinhas’ orientais dos últimos anos. De uma hora pra outra aparecem novas modinhas que os jovens, e os não tão jovens, absorvem de maneira impressionante, tal qual a das pulserinhas que fazem seus usuários pagarem prendas quando rompidas.
Eu achava que só os orientais e os europeus absorviam as culturas vindas de lugares desprestigiados economicamente, no entanto os brasileiros começam a dar ares de adequação a essa onda. Isso, por um lado é bom, mas nos falta o ‘cacuete’ de anos que nossos precursores têm. Essa nossa adequação tardia e sem critério me dá um pouco de medo e fico, muitas vezes, sem assunto com os meus alunos.
Nada contra religiões e gostos. Quer dizer, tenho sim algo contra algumas religiões e gostos, mas nada contra o espiritismo propriamente, acho interessantíssimo, embora discorde da onda caridosa que se construiu em torno dele. Sobre gostos, eu estou me acostumando a respeitar o dos outros, embora não entenda como tanta porcaria sai das prateleiras para as casas. Opa, sei sim. Nos falta cacuete.
Fecho este post sugerindo um belíssimo DVD: Buena Vista Social Club. Eu ganhei de Wanessa. Fazia tempo que música não me surpreendia. Agente pensa em cuba e de pronto em opressão, agora penso em driblar a opressão, não com armas, mas com palavras. Podia ter escrito canção, mas preferi evitar o trocadilho ...é, foi mais forte que eu.
Entre dragões e moinhos de vento, entre alephs e máquinas do mundo, o que as ‘litteras’ me deixaram? A gente costuma dizer que somos o que pensamos ou o que comemos. Eu prefiro acreditar que você é o que lê. No meu caso, em menos de 24h, neste sábado, durante as aulas percebi no que havia me transformado. A faculdade de letras tirou totalmente a minha inocência como leitor e como telespectador do mundo. Regurgito o que me é apresentado com uma frieza glacial e me sinto muito bem assim.
Seguindo a mesma linha do post anterior e inovando a minha tentativa de dar uma cara mais específica a este blog, percebi que tenho que aprimorar a minha frieza e não tolerar tanto a incompetência alheia. A ignorância sim, mas incompetência, nunca. Das minhas limitações cuido eu. Cada dia que passa, percebo que do subúrbio carioca, do cerne dos bairros, ela tem emanado como um vírus.
(“Fudeu! O Gabriel virou neonazista, vai sair matando os alunos burros!!!”
-Não, nada disso, caro leitor!)
Por quê continuar estudando, se ninguém estuda, dando aula, se ninguém quer nada? Por que lá no fundo alguém quer, e se importa. Alguém lê os meus textos, acadêmicos ou não. Ainda param pra me escutar, mesmo que não acrescentem. Ainda bem que tem o ainda! Não sei se é amor, eu acho que não. Apenas respeito a decisão que tomei há um tempo atrás, a de produzir e ajudar quem quer, seja lá o que for, e seja lá o que isso signifique. Percebi que o saldo das 'litteras' foi mais positivo que negativo.
Sugestão de disco: JESUS CHRIST SUPER STAR, um disco de tirar o fôlego. Rockão como deveria ser um bom disco de rock. Escutem sem precisar se converter.
Ouvir música tem se tornado um suplício para mim. Cheguei a um ponto onde não estou com paciência para nada! A idade tem se feito cada vez mais presente nas minhas incursões musicais. Enquanto ao fazer música, aí é que a coisa fica mais crítica. Com esse negócio de fazer mestrado, ser crítico ao extremo e ter embasamento teórico pra tudo, o fazer, o labor, tornou-se algo extenuante. Estou tentando não perder o prazer de fazer. Não perdi, mas estou tendo mais e mais trabalho.
Trabalho é bom, não reclamo. Na verdade, eu gosto. É que atingi um ponto que não atingia fazia tempo, um rito de passagem. A melhor fase, na minha opinião, na qual se pode produzir com mais sentimento. É mais um daqueles ciclos que passamos e voltamos a um lugar comum, mas com um olhar bem mais experiente. Lidar com essa dinâmica de sentir e experimentar é que tem sido a minha batalha. A produção diminui, no entanto, ela se aprimora, se refina e dá tons de maturidade.
Vejo as coisas contra a luz, percebo mais os contornos. Tomei as rédeas da vida, porque percebi que ela não é uma preparação para nada. Os ritos não me levaram a lugar algum, e quando saí, muitas vezes, comi terra para me sentir em casa, por que o rito tira a certeza, para devolvê-la mais forte e com vida própria. Não há lugar como o lar, e não há abraço melhor que um por anos esperado. Efemeridade é a regra desse rito. Simples de coração, porque de outra forma não podia ser.
Sugestão de Disco: A Contraluz, da Banda uruguaia LA VELA PUERCA. Um disco lírico e musical, de rock com umas incursões latinas, de metais bem arranjados e bem encaixados. Um dos melhores discos deles e que eu recomendo.
Quase letrado, uéfiérrejoteiro, gaiteiro, professor (lo siento), subtitulador, escrevedor de blogs e textos em geral, latino, flamenguista e cantautor que não faz a menor idéia do que quer ser quando crescer...