domingo, 23 de maio de 2010

é, postei

Soneto de Amor para ler no metrô nº 7

O pé quando afunda na lama
Levanta a trama de terra intocada
Que estava por muito escondida
Nos pormenores movediços da alma

Ai, pudera eu ter a sabedoria dos
Grandes, e esperar a hora exata
De tirar os pés, por muito atados,
Num jogo de vácuo que me prende e arrebata

Tem-se em vista o outono carioca
A sombra que se levanta sobre a cidade
E assola o vai-e-vem penetrante de pés

Que outrora lutavam por liberdade
Mas que agora, a essa idade, trocam
A luta por olhos mais cerrados.

Maricá, 12 de maio de 2010, onde não há metro.

O sol seca a terra e o pé como
o metrô, fica embaixo da dela, afônico,
apertado e sem pressa.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Leitura de mãos, regressão a outras vidas

Olha a nova onda de espíritas de plantão surgindo. Depois de uma semana do Filme do Chico Xavier, percebo um movimento pró-espírita quase tão forte quanto o de ‘coisinhas’ orientais dos últimos anos. De uma hora pra outra aparecem novas modinhas que os jovens, e os não tão jovens, absorvem de maneira impressionante, tal qual a das pulserinhas que fazem seus usuários pagarem prendas quando rompidas.

Eu achava que só os orientais e os europeus absorviam as culturas vindas de lugares desprestigiados economicamente, no entanto os brasileiros começam a dar ares de adequação a essa onda. Isso, por um lado é bom, mas nos falta o ‘cacuete’ de anos que nossos precursores têm. Essa nossa adequação tardia e sem critério me dá um pouco de medo e fico, muitas vezes, sem assunto com os meus alunos.

Nada contra religiões e gostos. Quer dizer, tenho sim algo contra algumas religiões e gostos, mas nada contra o espiritismo propriamente, acho interessantíssimo, embora discorde da onda caridosa que se construiu em torno dele. Sobre gostos, eu estou me acostumando a respeitar o dos outros, embora não entenda como tanta porcaria sai das prateleiras para as casas. Opa, sei sim. Nos falta cacuete.

Fecho este post sugerindo um belíssimo DVD: Buena Vista Social Club. Eu ganhei de Wanessa. Fazia tempo que música não me surpreendia. Agente pensa em cuba e de pronto em opressão, agora penso em driblar a opressão, não com armas, mas com palavras. Podia ter escrito canção, mas preferi evitar o trocadilho ...é, foi mais forte que eu.

domingo, 7 de março de 2010

para ler no metrô

nº 5

Si los pájaros no vuelan como vos
Yo si, los tengo enjaulados
Sabés que para matar no (es preciso vivir)
Tampoco escupir

Los de afuera tienen brazos apretados
Y nombres de monstruos
Ya vos, nos sabés sobre el hambre
Tampoco soñar

Hacia afuera la lluvia
Que la tortuga deja
Pasar

Y la bella no encuentra
Sus llaves para volver.
Además, hace frío.

Buenos Aires, 10 de enero de 2010

Si se ama sin averiguar
Los más porosos entremeses
Del olvido
Por las calles mojadas de Montevidéo.

sábado, 6 de março de 2010

Por amor às causas perdidas

Entre dragões e moinhos de vento, entre alephs e máquinas do mundo, o que as ‘litteras’ me deixaram? A gente costuma dizer que somos o que pensamos ou o que comemos. Eu prefiro acreditar que você é o que lê. No meu caso, em menos de 24h, neste sábado, durante as aulas percebi no que havia me transformado. A faculdade de letras tirou totalmente a minha inocência como leitor e como telespectador do mundo. Regurgito o que me é apresentado com uma frieza glacial e me sinto muito bem assim.

Seguindo a mesma linha do post anterior e inovando a minha tentativa de dar uma cara mais específica a este blog, percebi que tenho que aprimorar a minha frieza e não tolerar tanto a incompetência alheia. A ignorância sim, mas incompetência, nunca. Das minhas limitações cuido eu. Cada dia que passa, percebo que do subúrbio carioca, do cerne dos bairros, ela tem emanado como um vírus.

(“Fudeu! O Gabriel virou neonazista, vai sair matando os alunos burros!!!”

-Não, nada disso, caro leitor!)

Por quê continuar estudando, se ninguém estuda, dando aula, se ninguém quer nada? Por que lá no fundo alguém quer, e se importa. Alguém lê os meus textos, acadêmicos ou não. Ainda param pra me escutar, mesmo que não acrescentem. Ainda bem que tem o ainda! Não sei se é amor, eu acho que não. Apenas respeito a decisão que tomei há um tempo atrás, a de produzir e ajudar quem quer, seja lá o que for, e seja lá o que isso signifique. Percebi que o saldo das 'litteras' foi mais positivo que negativo.

Sugestão de disco: JESUS CHRIST SUPER STAR, um disco de tirar o fôlego. Rockão como deveria ser um bom disco de rock. Escutem sem precisar se converter.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Lleno de Magia

Hiato

Ouvir música tem se tornado um suplício para mim. Cheguei a um ponto onde não estou com paciência para nada! A idade tem se feito cada vez mais presente nas minhas incursões musicais. Enquanto ao fazer música, aí é que a coisa fica mais crítica. Com esse negócio de fazer mestrado, ser crítico ao extremo e ter embasamento teórico pra tudo, o fazer, o labor, tornou-se algo extenuante. Estou tentando não perder o prazer de fazer. Não perdi, mas estou tendo mais e mais trabalho.

Trabalho é bom, não reclamo. Na verdade, eu gosto. É que atingi um ponto que não atingia fazia tempo, um rito de passagem. A melhor fase, na minha opinião, na qual se pode produzir com mais sentimento. É mais um daqueles ciclos que passamos e voltamos a um lugar comum, mas com um olhar bem mais experiente. Lidar com essa dinâmica de sentir e experimentar é que tem sido a minha batalha. A produção diminui, no entanto, ela se aprimora, se refina e dá tons de maturidade.

Vejo as coisas contra a luz, percebo mais os contornos. Tomei as rédeas da vida, porque percebi que ela não é uma preparação para nada. Os ritos não me levaram a lugar algum, e quando saí, muitas vezes, comi terra para me sentir em casa, por que o rito tira a certeza, para devolvê-la mais forte e com vida própria. Não há lugar como o lar, e não há abraço melhor que um por anos esperado. Efemeridade é a regra desse rito. Simples de coração, porque de outra forma não podia ser.

Sugestão de Disco: A Contraluz, da Banda uruguaia LA VELA PUERCA. Um disco lírico e musical, de rock com umas incursões latinas, de metais bem arranjados e bem encaixados. Um dos melhores discos deles e que eu recomendo.